A perda e a diminuição da renda, causadas pela crise da
Covid-19, pressionaram mudanças nos hábitos de consumo. Somado a isso, o
isolamento social instigou e acelerou o processo de conscientização. Agora, com
menos poder de compra e mais seletivo, o consumidor de todas as classes
econômicas começa a experimentar e entender a necessidade da educação
financeira, adequando-as de acordo com as distintas realidades, para reduzir os
efeitos da recessão.
Pesquisa realizada pelo Centro de Estudos em Finanças da Escola
de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGVcef) e
a Toluna mostra que 63,93% dos entrevistados sofreram redução dos ganhos.
Realizado em maio, o levantamento contou com 806 participantes em todo o País,
sendo 45% homens e 55% mulheres, maiores de 18 anos.
Para a coordenadora da pesquisa e professora do Centro de
Estudos em Finanças (FGVcef) da FGV Eaesp, Claudia Yoshinaga, o brasileiro teve
de enfrentar a corrosão na renda, cortando e repensando os gastos. “A gente tem
ouvido falar com nunca de uma reserva de emergência para ter um colchão de
segurança diante de uma crise. Muitos que não olhavam para isso estão
despertando para essa consciência”, diz. Ela acrescenta que a sociedade ficou
mais tempo em casa, ambiente favorável para uma quebra de paradigma em relação
ao planejamento doméstico.
A superintendente da Associação de Educação Financeira do
Brasil (AEF-Brasil), Cláudia Forte, reitera que o quadro sanitário provocou um
grande movimento reflexivo. “O susto e o despreparo em que nos encontrávamos
enquanto nação, na chegada da crise, obrigatoriamente, coloca-nos num lugar
como seres pensantes a refletir sobre isso. De uma maneira ou de outra, teremos
alguns conceitos de consumo, finanças e endividamentos revisitados ao longo
dessa pandemia“, avalia.
Ela explica que a educação financeira é uma possibilidade
viável para todos e começa a partir de pequenas mudanças cotidianas para
viabilizar a organização e prática de qualquer projeto familiar, pessoal ou
profissional. Os menos favorecidos economicamente, explica, podem começar com
ações como guardar o troco da padaria, fechar a torneira, reduzir o tempo no
banho, desenvolvendo uma rotina e gerando economia.
“Acho que são pequenos gestos que podem tirá-lo desse lugar
da vulnerabilidade. Não somente na aquisição de renda, é, sobretudo, da
autonomia, do processo mais consciente da tomada de decisão”, observa. Cláudia
avalia que, a partir dos novos hábitos, a mudança de comportamento ocorre
lentamente a preparar o terreno para uma mobilidade social.
O caminho da educação financeira começa pela análise das
dívidas e potencial econômico. Depois, um raio x sobre o que se consome. A
pessoa precisa ter conhecimento do quanto da renda é destinado aos chamados
gastos supérfluos e entender a razão por trás da cada compra de produto ou
contratação de serviço.
Identificadas as questões, anota-se o consumo para saber
todo o percurso do seu dinheiro. “Todos devem ser listados. Quando somamos, são
os pequenos gastos que abrem um rombo”, aponta. Também é preciso renegociar as
dívidas, adequar prazos e incluir toda a família no plano e estipular metas
para cada um. Para as crianças, por exemplo, é importante reduzir o uso de
eletrônicos e pedir a contribuição com a utilização mais eficiente da
tecnologia.
Empreendedores também precisam incorporar a gestão
financeira em seus negócios. As pequenas empresas, que têm um peso importante
na economia brasileira, foram as mais impactadas pela crise financeira causada
pela pandemia do novo coronavírus, e muitos precisam fechar as portas. Com um
planejamento, talvez, fosse possível ter um caixa para situações de fechamento
temporário.
Para Mônica Arruda, analista do Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), é importante que os empresários invistam
em conhecimento, busquem orientações, consultorias e ferramentas de gestão.
“Manter controles financeiros atualizados para ter
informações para tomada de decisões, elaborar um fluxo de caixa, analisar
resultados para conhecer o lucro, conhecer custos e despesas e adequá-los à
realidade da empresa, equilibrar prazos médios de compra e vendas, analisar
margens e preços. São ações que precisam ser constantes para a manutenção da
saúde financeira da empresa, seja em tempo de prosperidade ou de crise”, frisa.
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